Uma narrativa artística em sua trajetória dentre o cosmos

Texto crítico de Lua Mathias para a exposição individual de Katarine Rech "Em algum lugar no Universo: as imagens de nós"

8/4/20252 min read

Uma narrativa artística em sua trajetória dentre o cosmos

Texto crítico por Lua Mathias

Existe uma busca pela profundidade em linguagens estéticas ligadas a cosmologia. Aqui, quando intencionalmente apartados da figuração humana e levados para fenomenologia do universo, somos inclinados a questionar a significância da materialidade humana perante o cosmos. Sendo defrontados à um blackout de imensidão sem fim, nos vemos encarando os pequenos pontos de tinta estrelados em "Em algum lugar no infinito". Tal como um mapa que nos mostra uma localização específica, a obra cataloga a fase de fenômenos cosmológicos da produção de Rech. Como quem utiliza um 'mise en abyme' de forma silenciosa, situa suas obras fenômenos dentro do tecido espacial da tela, afastando assim cada vez mais sua lente de percepção.

Advinda de uma tradição formalista acadêmica, ao dar os passos de consolidação de poética pessoal para além da academia Katarine se vira para a abstração visível do universo. A busca pelo infinito, pelo vasto e o desconhecido narram o início de uma etapa de exploração técnica e sinestésica, onde cada passo é sendo registrado no espaço de uma tela. Assim, Rech traz em sua produção uma vastidão cósmica repleta de estrelas e nebulosas que engolem a corporeidade humana, o abismo infinito do tecido espacial traz consigo a disparidade da pequenez do corpo humano perante a fenômenos corpóreos de maior escala. Imbuído de reflexões poéticas que partem de bases científicas, a artista traz o conhecimento de que a maioria dos elementos químicos constituintes dos organismos vivos teve origem no interior das estrelas, Por meio de processos de fusão nuclear, que posteriormente foram disseminados pelo universo durante os estágios finais do ciclo estelar, especialmente em eventos como supernovas, se evidencia a profunda interconexão entre os fenômenos astrofísicos e a constituição da vida corpórea. Aqui a corporeidade se faz partícula de poeira cósmica em certas produções, pequena e insignificante demais para ser notada a olho nu, já em outras quando se faz forma figurativa concreta ela permanece suspensa perante o vazio do espaço. Se a própria matéria que forma os corpos é a mesma que forma o universo em sua extensão infinita, o corpo humano está portanto aqui imerso na profundidade do que o constitui, buscando sentido e equilíbrio em si mesmo.

Fotografia de Gawain Santos.

Graduanda do Bacharelado em História da Arte da UFRGS, mantém sua linha de pesquisa em estudos socioculturais, arte educação e decolonialismo nas artes. É Jovem Embaixadora EcoWoman 2022, projeto advindo do curso de Mestrado em Políticas Sociais e Cidadania, na Universidade Católica do Salvador (UCSal), voltada para lideranças femininas em projetos sociais brasileiros. Já realizou produções de texto e crítica para o projeto Nervo Crítico, programa de extensão em crítica de arte pela UFRGS, bem como teve produções de editoria e gestão da ÍCONE-Revista Brasileira de História da Arte.

Lua Mathias